sábado, 13 de outubro de 2012

Belo Horizonte na rota internacional do afrobeat

Fela Anikulapo Kuti, inventor do afrobeat, que ele dizia ser "música clássica africana"



3ª edição do tributo FelaDayBH reúne as bandas Iconili (MG), Abayomy Afrobeat Orquestra (RJ) e o lendário guitarrista nigeriano Oghene Kologbo para celebrar o nascimento do músico e ativista Fela Kuti


Um grande baile de afrobeat, regado à metaleira funkada e percussão iorubana. É o que podem esperar os fãs de Fela Kuti, no dia 18 de outubro, quinta-feira, no Granfinos, pela celebração do FelaDayBH 2012. Lançando o álbum de estreia, a carioca Abayomy Afrobeat Orquestra divide o palco com a banda mineira Iconili, que preparou um tributo ao músico e ativista nigeriano. Quem abre a noite é a banda El Efecto (RJ), apresentando o terceiro CD “Pedras e Sonhos”, dentro do projeto “Cedo e Sentado”, com entrada franca. As outras atrações fazem parte da série “Engata Quinta”, em edição especial, que ocupa o espaço a partir das 23h. A responsabilidade de esquentar a pista de dança será dos DJs Ibrabamba e D’Aluandê, que são, respectivamente, os produtores culturais Ibrahima Gaye e Geo Cardoso, que desde 2010 realizam o tributo na capital mineira.
Foto: Divulgação
Kologbo, guitarrista da lendária Afrika 70

Com participações do músico nigeriano Olú Akínrúli, de integrantes do Coral Agbára Vozes d’África nos backing vocals, das cantoras Eda Costa Renzuli e Zaika Santos e dos bailarinos Rui Moreira e Gaya Dandara, o show-tributo terá no repertório clássicos como “Gentlemen”, “Water no get enemy”, “Lady”, dentre outras. A noite reserva um momento especial com a participação do lendário guitarrista Oghene Kologbo, que integrou por anos a banda Afrika 70 e considerado “filho adotivo” de Fela. Na programação, ainda acontece o lançamento da campanha de financiamento do documentário Anikulapo, do fluminense Pedro Rajão. Maiores informações: http://catarse.me/pt/anikulapo.

Pelo terceiro ano consecutivo, a capital mineira entra no calendário internacional do Fela Day, tributo realizado em diversas cidades no mundo em homenagem ao nigeriano morto em 1997.
O evento é uma realização do Centro Cultural Casa África, em parceria com a Cria Cultura, Casa de Shows Granfinos, Casa Fora do Eixo Minas, Programa Música Minas e banda Iconili.

Fela Kuti: vida e obra
Considerado o principal criador do afrobeat, ritmo que mistura a ancestralidade da percussão de origem iorubana a elementos do funk e jazz, Fela Anikulapo Kuti é tido como uma das principais personalidades africanas do século XX.
Divulgação
Biografia oficial escrita por Carlos Moore
Multi-instrumentista, que elegeu o sax e o piano como instrumentos principais, Fela foi um revolucionário, tanto no âmbito político quanto musical. De personalidade forte, tornou-se a principal resistência ao governo totalitarista da Nigéria a partir dos anos 70, quando o país vivia um regime que reprimia e marginalizava a maioria da população. Como oposição à situação e ao sistema imposto pelo regime, fundou a república de Kalakuta, no maior e mais miserável gueto de Lagos, onde tinha como sede o “African Shrine”, seu santuário que era ao mesmo tempo o palco de suas apresentações. Em atitude contra os padrões de vida eurocêntricos, casou-se em uma mesma cerimônia com 27 mulheres, tratadas por ele como “minhas rainhas”. Muitas delas integravam como cantoras e dançarinas sua banda. Defendendo as bandeiras do pan-africanismo em favor de uma África livre da colonização europeia, Fela construiu uma obra com canções de protesto contra os presidentes nigerianos, preferindo cantar no dialeto pidgin ao invés do inglês para que suas mensagens pudessem atingir mais diretamente o seu povo.
Como músico, foi anti-industrialista, não se conformando com padrões impostos pela indústria fonográfica e nem pelo sistema político, o que refletia em seus temas de longa duração com letras predominantemente políticas. Ao todo, ele lançou 48 álbuns, ao lado das big bands Afrika 70 e Egypt 80. Todo vigor, inconformismo, genialidade e talento de Fela Kuti resultaram no afrobeat, nova linguagem musical criada por ele a partir de ritmos da tradição iorubana com fusões entre original funk e jazz a partir dos anos 1970, legado que até hoje influencia músicos por todo o mundo e ganhou maior visibilidade a partir dos anos 90.
A vida do artista foi registrada na biografia autorizada “Fela, esta vida puta”, escrita pelo amigo, escritor e etnólogo cubano Carlos Moore. A biografia, a primeira lançada de um artista africano, foi publicada originalmente em 1982, na França, sendo traduzida para o português após quase 30 anos pela editora mineira Nandyala. A obra foi a base para o polêmico musical da Broadway “Fela!”, produzido pelos astros Jay Z e Will Smith, sem autorização do autor. Momentos e entrevistas de Fela Kuti ainda foram registrados no documentário “Fela Kuti - Music is the weapon”, dirigido por Stéphane Tchal-Gadgieff e Jean Jacques Flori, feito em 1982 e lançado posteriormente. Fela Kuti morreu em 1997, aos 58 anos, vítima do vírus HIV.

Abayomy Afrobeat Orquestra
Foto: Donathino
Abayomy Afrobeat Orquestra, que lança CD em Beagá
Especialmente criada para a primeira edição carioca do Fela Day, em outubro de 2009, a Abayomy Afrobeat Orquestra estabeleceu, em pouco tempo, uma carreira sólida, se apresentando nas principais casas noturnas do Rio e São Paulo.
Formada por 13 integrantes, entre eles o tecladista Donatinho, filho do compositor João Donato, a banda possui no set um grande naipe de metais, guitarra, baixo, bateria e percussões. Nessa edição do FelaDayBH, a Abayomy lança o elogiado álbum de estreia, com produção musical de André Abujamra.

Iconili e o Tributo FelaDayBH 2012
Foto: Flora Rajão
Iconili, que preparou tributo com convidados 
Surgida em 2006, a banda Iconili é formada por 11 integrantes, com trio de sax (alto, tenor e barítono), trompete, percussões, teclados, guitarra, baixo e bateria. O som resulta da mistura peculiar de timbres, imersos em atmosfera de transe. Sopros, guitarras, teclado e uma cozinha bem temperada promovem cruzamentos rítmicos e culturais, evocando o jazz, o afrobeat, outros ritmos africanos e o rock. Para a ocasião, a banda topou o desafio de construir um show-tributo com músicas de Fela Kuti, sendo ainda a banda base para a participação dos convidados. As big bands de Fela possuíam um grande naipe de metais, muitas dançarinas e backing vocals. Para fazer coro nas canções, integrantes do Coral Agbára Vozes da África se encarregarão de fazer os backing vocals. As danças ficarão a cargo dos bailarinos Rui Moreira e Gaya Dandara. Para interpretar os clássicos de Fela, participam o nigeriano Olú Akínrúli e as cantoras Eda Costa Renzuli e Zaika Santos.

Serviços:

Cedo e Sentado com a banda El Efecto (RJ)
18 de outubro de 2012
Quinta-feira, às 20 horas
Local: Granfinos (Av. Brasil, 326, Santa Efigênia)
Entrada franca 
Classificação etária: 18 anos
Informações: (31) 3241-1482 

Engata Quinta Especial – FelaDayBH 2012 com Abayomy Afrobeat Orquestra, Iconili + convidados e DJs Ibrabamba e D’Aluandê
18 de outubro de 2012
Quinta-feira, às 23 horas
Local: Granfinos (Av. Brasil, 326, Santa Efigênia)
Ingressos: 1º Lote – R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia) e 2º Lote – R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia), antecipados no site www.sympla.com.br/granfinos, e R$ 25,00 (lista amiga cadastrando-se até 18h de 19/10, em http://bit.ly/ListaAmigaGranfinos)
Classificação etária: 18 anos
Informações: (31) 3241-1482 

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Se ligue no primeiro Fela Day em BH!


Fãs de Fela e amantes do afrobeat,

No próximo dia 15 de outubro (sexta-feira), a partir das 22 horas, no UZINA Lounge, o Centro Cultural Casa África em parceria com a d' LiRA Conteúdo, promovem o primeiro tributo ao grande músico e ativista-político africano Fela Kuti na capital mineira com o Fela Day BH. O homenageado pertence ao rol das principais personagens da história do século XX. A noite no UZINA será regada a muito afrobeat - ritmo do qual Fela é considerado o "pai", criador - nos sets dos djs Ibrabamba (Senegal) e Yuga, do projeto Black Broder.  Ao som da metaleira funkada e das percussões tradicionais africanas, o público poderar ainda apreciar a exposição Negro Black Noir, do fotógrafo mineiro Netun Lima, que na última década documentou os eventos da Casa África e os principais da cena da cultura negra de Minas Gerais, além da projeçao do documentário Music is the weapon sobre o "afrojazzman" Fela Kuti.

Este blog se dedica ainda a informar sobre a biografia e trajetória de um dos maiores defensores do panafricanimos que utilizou a música como arma de politização, denúncia e transformação da realidade africana pós colonização européia.

Se liguem, pois muita história, toques, papos e sons vão rolar por aqui.

Serviço:


Feladay BH com dj's Ibrabamba e Yuga + exposição "Negro Black Noir", de Netun Lima
Data: 15 de outubro (sexta-feira), às 22 horas
Local: Uzina Lounge (rua Grão Mogol, 908, Sion, Belo Horizonte)
Ingresso: R$ 10,00 (preço único)
Classificação: 18 anos
Informações: 3653-4244 / 3221-2601 / 3077-1916 e www.feladaybh.blogspot.com

Eis o homem em ação #2

Sobre FELA KUTI

Nascido na cidade de Agbeokuta na Nigéria em 1938, Fela Ransome Kuti era filho de um pastor protestante e diretor de uma escola - homem severo e rigoroso no estilo britânico - com uma militante comunista, tida como a "grande dama" na Nigéria, que chegou a conhecer Mao Tsé Tung.
 

No início dos anos 60, Fela vai estudar música em Londres, onde inicia suas experiências musicais para criar um estilo próprio a partir de fusões da percussão e cânticos tradicionais yorubanos, com original funk e jazz, que resultaram no "Afrobeat", ritmo do qual é considerado o pai. Utilizando o "endless groove" como ritmo base, com baterias, "muted guitar" e baixo que são repetidos continuamente ao longo das músicas, enquanto os metais alternam nuances tal qual o "lé", tambor menor utilizado nos ritos de terreiros do candomblé, que possuem origem também na cultura Yorubá da Nigéria. Com rifes e coros, as músicas de Fela, em geral, possuem dez minutos ou mais, em shows em que o ponto forte era a performance dele ao lado de suas dançarinas e backing vocals, acompanhados por uma big band. O afrobeat em pouco tempo conquistou o mundo e, de 1971 a 1992, Fela Kuti lançou 48 discos, acompanhado em momentos distintos pelas bandas Afrika 70 e Egypt 80.
 

Da mãe, Fela herdou a natureza revolucionária. Após formar sua primeira banda, a Nigéria 70, que mais tarde seria Afrika 70, ele excursionou no final dos anos 60 pelos EUA, onde teve contato com o movimento Black Panther e a ideologia e pensamento de Malcom X.
Ao regressar para a Nigéria, lidera uma resistência político-cultural ao governo nigeriano, transformando a sua boate Shrine em QG de resistência. Suas letras traziam criticas sociais ao governo e denúncias da realidade de marginalização da população daquele país africano, chegando a comparar os maus tratos que a população nigeriana sofria como piores do apartheid na África Sul, alegando que enquanto lá o racismo era de brancos contra negros, na Nigéria a realidade era de negros destratando negros. Em 1977, Fela substitui o nome Ransome por Anikulapo, já que considerava o primeiro o nome de um escravo, já o segundo sendo o nome de um rei, significando "aquele que carrega a morte no bolso".
 

Em seus concertos no Shrine, Fela desafiava o governo nigeriano, tendo sido levado a julgamento centenas de vezes e sofridos represálias militares. Numa ação em tom de protesto, Fela casou-se com 27 mulheres numa mesma cerimônia, sendo a mairia delas dançarinas e backing vocals de sua banda. Até que, em uma das represálias, Kuti foi cruelmente espancado e arremassado de uma janela junto com sua mãe - já idosa -, que morreu nesse atentado contra o Shrine, que o centro de resistência da "República de Kalakuta", liderada por Fela.
Os ideais panafricanistas de valorização das culturas e saberes africanos diante supremacia e dominação européia nortearam as atividades de Fela durante toda vida, que acreditava que "o panafricanismo está no pensamento de todos agora. Subconscientemente, todos sabem que têm de ser africanos agora”, como registra o videodocumentário "Music is the weapon", que será exibido durante o tributo em Belo Horizonte.
 

Em 1997, Fela veio a falecer vítima de AIDS. Desde a última década, várias capitais na África e país da diáspora pelo mundo realizam o "Feladay" como tributo a Fela Kuti no seu dia de nascimento, em 15 de outubro.